quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sem mais urgências



Pois bem... semana corrida, cheia de contratempos e turbulências. AO MENOS, o mês de agosto acabou, o que alivia um pouco a tensão já que o “cachorro louco” jaz em paz agora. Venho registrar a noite de domingo à beira-mar que, no último post, disse que merecia um relato à parte.

Como disse, fui sozinho à noite para a praia e por lá fiquei cerca de duas horas. Comprei cerveja e achei lá o meu DIPALHA! Sentei-me à beira-mar e fiquei a divagar, embalado pelo som bravio das ondas quebrando na areia.

Me perco observando o mar... e, contraditório eu sei, é quando me perco que me encontro de verdade.

ADORO cantar, mesmo sabendo que não tenho o menor dom pra coisa...rsss... e sempre canto muito quando estou sozinho (no banheiro então...!). Canto o que me vem na cabeça, e dentre as músicas que minha memória buscou no domingo, à beira-mar, surgiu aquela antiga do Paulinho Mosca “Meu amor, o que você faria se só te restasse este dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria...”.

Taí! O que eu faria se o mundo fosse acabar no fim daquele domingo? Tanta coisa me veio à cabeça. Tantas pessoas me vieram à mente. (sou nostálgico por natureza) . MAS, o que eu faria se só me restasse aquele dia? Ligar para minha mãe e dizer que apesar de tantas divergências eu a amo e sou grato? Ou agarrar minha filha nos braços e assim permancer até o último segundo, para compensar tantos momentos de ausência que a vida nos impôs?

Pensei também que poderia cobrar o último beijo que não ganhei, mesmo pedindo, naquele dia. Ou, quem sabe, ligar para aquele amigo hétero por quem me apaixonei sem nunca ter coragem de me declarar e dizer “cara... só queria que soubesse que...”. Ou então deixasse tanta sentimentalidade de lado e agarrasse tantos homens quanto me fosse possível e gozar horroooores com todos eles. Ou, quem sabe, até mesmo injetar heroína na veia para anestesiar o medo do fim (há medo do fim, realmente?)?

Muitas coisas pensei poder fazer se o mundo fosse acabar e me restasse apenas aquele domingo. E, curioso, o que mais pensei (desejei e até busquei) foi rever e reviver alguns momentos que marcaram muito a minha vida. E, ainda mais curioso, é que estes momentos não estão relacionados com pessoas, mas com a própria vida. São momentos como o dia em que cheguei sozinho em Diamantina e vi o sol nascer entre aquelas montanhas. Ou o dia em que acordei sozinho às margens do Rio Preto, em Itambé, e ele estava coberto de neblina (a “fumaça” estava apenas em cima da água do rio). Ou quando acordei, também sozinho, em Capanema e vi o precipício coberto por nuvens que, como mágica, “correram” em minha direção fazendo surgir o vista do vale. Ou a visão daquela lua-cheia, extremamente redonda, grande e vermelha, no sertão de Minas. Ou reassistir o fenômeno da lua-azul, que ganhei de presente dos céus no meu aniversário de 15 anos... a lista é enorme, felizmente!

Sempre tive muita urgência da vida. Sempre fui muito impulsivo, entregue a momentos, e acabei me tornando um cara kamikaze (exposto aos mais diversos riscos e ameaças, como as decepções e frustrações). Acho que isso tem muito a ver com a minha geração, mas que eu potencializo. Tem a ver com o lance de buscar a satisfação do prazer imediato... E estes momentos que citei acima, de contemplação da vida, não pediram urgência: se concretizaram no próprio tempo da existência.

Acabei concluindo que se o mundo fosse acabar com o término daquele domingo, o que eu queria REALMENTE era continuar ali, sentado, sem pressa... apenas olhando o mar, ouvindo seu som bravio, sentindo seu cheiro e encontrando no horizonte, mesmo escuro, a perenidade daqueles sentimentos e emoções guardados na minha lembrança. Sem urgências... sem MAIS urgências...