sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Na Pressão



Lembrei da música do Lenine Olho na pressão, tá fervendo, olho na panela... a bruxa acendeu o fogo... Não costumo dar título a um texto antes de escrevê-lo. E devo dizer que tenho feito muitas coisas fora do meu costume – estou na pressão.

Tive um sonho ruim hoje. Um sonho que começou bom, mas que terminou muito ruim. Acordei assustado, afoito. E ainda lembrava bem o sonho. Não havia um lugar, havia um apenas um rosto sobre o fundo escuro. Um rosto estático, mas doce, que me enternecia. Não me encarava, e eu o examinava encantado. Estiquei meu braço para tocar uma pequena marca naquele rosto. Foi quando a imagem se desfez como nuvem, e então já era dia e eu andava por um lugar bonito, como um pasto, mas estava tenso. Eu não reconhecia o lugar e parecia estar fugindo de alguém. E de repente eu tropecei e comecei a cair num buraco escuro onde havia gritos. Acordei suado e ofegante. Não chegou a passar um minuto completo, o despertador tocou e eu levantei.

Que puta desânimo de ir trabalhar em pleno feriadão. Saio, o dia está lindo e encontro um amigo, de mochilão nas costas, que vai curtir o feriado na cidade que é meu refúgio: Itambé. Como eu quis acompanhá-lo! MAS... querer não é poder, sempre me alertam – e me lembraram isso antes de sair de casa...

Ônibus vazio, ruas vazias, peito vazio... A verdade é que eu estou ESGOTADO, e eu preciso dizer isso. Vivi uma semana cheia de problemas e brigas. Na semana seguinte, traço uma meta de planos, ponho-os em ação, e vamo que vamo. Trabalhar; estudar pra concurso; fichar uma porrada de textos pra monografia; malhar; ir pra faculdade; escrever pro blog; visitar outros; dar atenção aos amigos... O objetivo é ocupar todo o meu tempo. Desprender atenção a tarefas mil. Esperando com isso não vacilar, não fraquejar, não sucumbir ao desânimo e, principalmente, não pensar nele...

E no meio desse milhão de coisas sendo feitas, impossível não lembrar dele. Impossível não lembrar e me culpar pelo que fiz. Minha cidade me lembra ele, porque queria muito apresentá-la a ele. Livros me lembram ele e há pouco um livro que vi sobre a mesa ao lado me lembrou ainda mais ele: A Insustentável Leveza do Ser, do Milan Kundera. E cito de cabeça o trecho Deitar-se com uma mulher e dormir com ela: eis duas paixões não apenas diferentes, mas quase contraditórias. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (...) mas pelo desejo do sono compartilhado. Ressalvada a notável diferença do gênero, é isso o que eu sentia, e sinto, por ele: desejo do sono compartilhado.

Em nossas conversas anteriores ao encontro, nunca falamos de sexo. E justamente por partimos direto para a prática, começamos tímidos. Assim como tudo começou: timidamente. Mas a timidez foi dando lugar a muito fogo (de paixão e tesão), tanto no início dos contatos na web, quanto no encontro pessoalmente.

E além de Beagá e livros, músicas me lembram ele o tempo todo. Posso citar Cássia Eller com E só cheiro do seu cheiro não quer me deixar mais em paz, nos ares dos lugares onde passo e onde nunca estás; ou Paulinho Moska com Eu grito por liberdade, você pisa os pés na terra; ou Martnália com A hora do sim é o descuido do não. Sei lá... sei lá... só sei que é preciso paixão; ou Pitty com E não adianta nem me procurar em outros timbres, outros risos; isso sem falar em quase toda discografia do Cazuza, Chico, Marisa, Milton, Legião, Zélia, Los Hermanos, etc (e nessa hora dou graças a Deus por não gostar de sertanejo e pagode); além dos internacionais Belle & Sebastian, Jack Johnson, Beatles, Yael Naim e até Led.

As vezes acho que devia seguir o conselho do Ton e parar de ler Caio F. Abreu. Mas o problema não é o que o Caio escreveu, é o que eu sinto. Ele só traduziu todo o meu sentimento em palavras, e não dá pra parar de sentir. Então insisto na leitura. Caio ultimamente só me lembra ele e penso agora será que ele leu/vai ler o livro? Será que ele vai arrancar a orelha? E daí penso que os “será”, os “se”, os “talvez” tomam conta de mim. E vem Caio na cabeça agora Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem juntos para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. (...) Talvez tudo, talvez nada.

E na onda dos “será”, me pergunto será que se eu não tivesse feito a merda que fiz todo o romance perduraria? Como era bom ter ele no meu dia-a-dia... A distância física é grande, mas a proximidade dos pensamentos parecia superá-la. Carinho e atenção eram transmitidos nas conversas por e-mail e nas on-line, e isso acabou. A cada vontade que tenho de mandar um e-mail, ou puxar papo no messenger, hesito. Daí penso que hesito tarde demais...

Sentimento de culpa dói muito. E essa dor é só minha. Mesmo que tenha doído nele, quem sabe ainda doa, é um doer diferente. Culpa corrói. E chego a pensar será que se eu tivesse contado quando ensaiei contar mudaria alguma coisa? Acho que não mudaria nada, a não ser o fato de que aqueles dois dias não teriam sido como foram. Mas ainda assim me culpo também por não ter sido eu a contar tudo. A confissão não é minha e eu mal me pronunciei a respeito.

Não valia a pena fazer o que eu fiz e eu sabia disso. Então por que fiz? Não encontro resposta plausível, e também não me escondo atrás do “tava bêbado”. E tenho muita raiva de mim. Raiva por ter abalado duas relações que me eram tão gostosas e sinceras, cada uma à sua maneira. E por causa de um impulso incontido me sobraram de uma ofensas, e da outra dor e remorso.

Não pedi perdão, menos ainda desculpas e me pergunto se o devia ter feito. Mas acho que não cabem. E gostaria tanto que fosse possível haver perdão... mas entendo perfeitamente essa impossibilidade. E ainda assim digo maldita é a lógica dos programadores. Caramba... sentimento não é exatas, é humanas. E como eu gostaria de ser capaz, também, de equacionar sentimentos e emoções. E por não conseguir ser racional, não me conformo com o cálculo feito. Foi considerada uma possível progressão da ação reincidente em detrimento da capacidade exponencial do sentimento que só crescia. E dói demais não ter moral para questionar o resultado dos cálculos, ou para dizer a ele que qualifique ao invés de quantificar.

E me sinto ridículo e mesquinho e hipócrita neste instante, pois acabo de indagar será que palavras, gestos e termos como amor também foram calculados? Não. Duvido.

Fiz acordo comigo mesmo de não registrar isso aqui no blog. Mas criei esse espaço para o descarrego, e escrever me limpa mais que chorar. Como disse no início estou esgotado e precisava desabafar isso. Mesmo que não consiga esgotar com o texto tudo o que tenho sentido e pensado nas duas últimas semanas. Essa dor vai secar. Pode demorar dias, semanas ou meses, mas vai secar. E espero conseguir restabelecer contato próximo e nutrir amizade com ambos. E eu vou conseguir lembrar apenas com ternura, não com dor e culpa, daquele fim de semana... das conversas olho no olho; do toque; do cheiro; do gosto; da mão forte segurando a minha; do jeitinho meigo com o qual me abraçava; da voz mansa; do jeito manso ao acordar e me relatar o sonho que teve; do sexo bom e, mais ainda, do sono compartilhado...

E até lá eu não vou permitir que a culpa continue corroendo minha auto-estima, minha alegria e meu prazer em ouvir músicas; ler livros; caminhar pela minha cidade; ler Caio F. Abreu. E novamente lembro Caio (e novamente me impressiono com o fato dele dizer exatamente o que sinto) Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso, ás vezes cruel porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como "estou contente outra vez."

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P.S.: Já estava publicando o texto quando começa a tocar aqui Canto Triste, música do Vinícius na voz de Mônica Salmaso... Tirando que não era primavera, era inverno, e que não é uma mulher a razão do meu canto triste, bate o resto como Volta pra mim Desponta novamente no meu canto Eu te amo tanto mais, te quero tanto mais (...) E nada existe mais em minha vida Como um carinho teu, como um silêncio teu Lembro um sorriso teu (...) Peço apenas Que ela lembre as nossas horas de poesia Das noites de paixão E diz-lhe da saudade em que me viste Que estou sozinho e só existe Meu canto triste Na solidão