terça-feira, 26 de agosto de 2008

La León



Quais são os limites do desejo? Quais as fronteiras da solidão? Quais as conseqüências de um sentimento contido, reprimido? Quais seriam as limitações do preconceito? E quais seriam as implicações de ser homossexual numa sociedade culturalmente movida à segregações? Afinal, ser gay é uma opção? Quanta incógnita...

No domingo, folheava na casa do Marco a revista Júnior quando me deparei com dicas de filmes. Dentre elas, havia LA LEÓN que, só pelo título, me chamou muita atenção... Além do título, o fato de ser argentino me fez ficar morrendo de vontade de conferir o longa-metragem. “Descobri” o cinema argentino (e me apaixonei) com o singelo e gracioso Valentin (Alejandro Agresti, 2004) e, desde então, comecei a me interessar pela produção dos vizinhos! O último que assisti foi o instigante El Passado (Hector Babenco, 2007) no qual, tenho que ressaltar, o Gael Garcia Bernal está deliciosamente GOSTOSO (e ainda tem a LINDA e emocionante participação do Paulo Autran – foi o último trabalho dele antes de partir). [E.T. ainda vou fazer um post exclusivo sobre El Passado, cujo livro terminei de ler agora!]

Fiquei LOUCO pra conferir o filme. Procurei na internet e achei poucas informações sobre ele, que foi produzido no ano passado. No youtube, nada além do trailler (abaixo) e alguns spots. Fui em duas locadoras, e nada também. MAS... saí do trabalho hoje e, passando por um dos cinemas alternativos da cidade, qual não foi minha surpresa ao ver que havia uma sessão ÚNICA do filme lá? Esqueci todos os meus compromissos (principalmente a monografia!), e fui conferir o filme...

LA LEÓN conta a história de Alvaro, um pescador que reprime a sua homossexualidade dentro de uma pequena comunidade ribeirinha. Ele é um cara extremamente fechado em sua solidão – que é disfarçada pela companhia e magia da literatura. Alvaro confronta-se com El Turu, marinheiro dono de um barco-táxi (se é que assim podemos chamar) chamado El León (que, notadamente, dá nome ao filme). El Turu é um bronco, ogro, arrogante, que se esconde atrás de tanta truculência para tentar conter o sentimento que converge com o mesmo experimentado por Alvaro (ou seja, o cara é biba mas se faz de machão!).

Nas sinopses que li do filme, todas alertavam que era um filme sobre gay, mas que não era PARA gay. E, realmente, não é mesmo. Disseram o mesmo a respeito de Brokeback Mountain, mas que no final das contas é filme pra gay sim. ORA! Uma linda história de amor, vivida ao longo de vinte anos num paraíso como aquele, protagonizada pelo gatíssimo (que Deus o tenha) Heath Ledger e pelo maravilhoso (que Deus preserve) Jake Gyllenhaal... COMO que não é feito para gays (suspirarem e chorarem horroooores!)?

LA LEÓN, definitivamente, não é um filme exclusivo para gays. Diria que é um filme direcionado para quem aprecia, de fato, a sétima arte, e não se prende a blockbusters apenas. É um típico filme autoral, ou filme de arte como preferem alguns críticos. O roteiro é denso, muito denso. Os atores são feios, homens simples e comuns de uma comunidade que sobrevive da pesca e da cana-de-açúcar. Os planos, em sua maioria, são filmados em sequência, com poucos cortes. A câmera é fixa e a fotografia (EXTRAORDINÁRIA) é toda em P&B. As cenas, longas por causa dos planos-sequências, registram extensos momentos de silêncio, o que, para mim, conflui diretamente com o drama dos personagens: a reclusão, o medo, a angústia...

O que mais me chamou a atenção foi justamente a possível significação do barco ( o La León) na trama. Ele representa o lugar onde se fixam os protagonistas. Aqueles dois homens nunca se aportaram em nenhuma das margens do rio. Estavam sempre na “terceira margem”, que seria o meio do rio, onde trafega a embarcação. Nunca oito ou oitenta. Sempre o meio termo: entre as margens, em cima do muro, no meio do rio...

O filme me surpreendeu demais, principalmente pelas coincidências que representou a mim. Indico fácil a todo mundo, mesmo sabendo que é o tipo de filme que agrada a poucos. Vale a pena conferir e, principalmente, refletir...

Se tiverem oportunidade, confiram o filme e me mandem suas opiniões a respeito!