Eu sou ariano: muito intenso, meio insano e completamente impulsivo. Esses são os atributos que mais me definem. Devo registrar ainda que nasci e cresci em Beagá e que sou alucinado pelas serras que circundam minha terra – sou bairrista ao extremo. Descobri o amor verdadeiro aos dezessete anos, quando me vi pai. A paternidade foi uma revolução gigantesca em minha vida. Travei muitas guerras pela minha cria, sendo a principal batalha travada entre eu e mim mesmo: se assumir gay para você mesmo não é nada fácil.
Mantenho um blog há quase quatro anos. Tenho um carinho imenso por ele, que registra meus pensamentos e sentimentos mais íntimos. Mas tenho uma reputação a zelar ou, como diz um amigo recente, uma imagem heterossexual a manter. Então, escrevo muito subjetivamente. Por ter que filtrar o que escrevo lá, atualizo-o muito pouco, o que resulta em uma visitação mínima. Há que se destacar que o tom melancólico-depressivo-literário afasta muitos leitores também.
Resolvi criar um novo blog onde pudesse escrever sem pudor. Para tanto, precisei criar um pseudônimo. Assim surge Ludo, que narra na blogosfera o lado cor-de-rosa de sua vida. Ludo é o diminutivo de Ludovic, personagem principal de Minha Vida em Cor de Rosa (Ma vie em rose, Bélgica, 1997), filme que inspira o título do blog. (Sim, eu sou metido a cult e acho importante que saibam disso. Sou apaixonado por poesia, consumidor ávido de literatura - com preferência pela brasileira, portuguesa e russa, nessa ordem -, cinéfilo em ascensão, amante do tablado e viciado em música.) Ludovic é um garoto que pensa ser, e age, como uma garota. Aos cinco anos, ele não compreende por que não pode usar saia, menos ainda beijar um amigo pelo qual se apaixona. Ainda na infância, Ludovic vai enfrentar o preconceito da família, dos amigos, dos vizinhos... É um drama muito comovente e que vale a pena ser conferido! Logo abaixo, disponibilizo um pequeno clip do filme.
Deixo claro que não me identifico com o Ludovic. Nunca quis usar saia e não me atrai nem um pouco a idéia de ser uma garota. Amo meu pinto, adoro meu corpo peludo, honro minha barba grossa e me orgulho pela voz de baixo-profundo que Deus me deu. Masculinidade não tem a ver com sexualidade. Sou um homem que gosta de homens. Adoro pêlo com pêlo, beijo áspero de barba por fazer e, principalmente, da pegada forte do corpo de outro macho.
Há tempos adio a criação deste blog. Mas, os acontecimentos de ontem foram decisivos! Não vou me alongar demais, porque iniciar um blog com um texto enorme pode desanimar possíveis leitores. Vamos então a uma breve contextualização:
Apaixonei-me perdidamente ano passado. Foram quatro meses de angústia. O cara se dizia hétero, sabia da minha condição gay e se aproveitou muito da minha paixonite. Fiquei tão descompensado por essa paixão, que cheguei a largar um puta emprego, abandonar os amigos e me enfiar no quarto em uma profunda depressão que durou dois meses. Recuperado, passam-se meses até que reencontro meu algoz e revivo todos aqueles sentimentos de novo. Fiquei com medo, pois percebi que ainda havia uma pequena chama daquela paixonite. Havia combinado com ele de irmos ao teatro ontem, conferir a estréia de uma peça sobre um casal gay. Sofri o dia inteiro a angústia de revê-lo, principalmente diante uma peça com conteúdo, no mínimo, tão sugestivo. Sabia que não me faria bem, mas ele me ligou confirmando o encontro e eu, que não sei dizer não, confirmei. Porém, dez minutos antes da hora marcada eu decidi ligar e dizer: “Foi mal, NÃO vou mais!”. Curto, grosso e sem remorso. I learned!
Fui conferir a peça sozinho. Depois, não hesitei em me jogar no Ponto de Encontro do FIT. Para quem nunca ouviu falar, o Festival Internacional de Teatro Palco e Rua – FIT BH é um evento anual que transforma a capital mineira em um imenso palco. Peças teatrais são encenadas em todos os teatros da cidade, além de praças e ruas também cederem espaço para artistas do mundo inteiro. A melhor parte do evento é o Ponto de Encontro, montado no Parque Municipal, que fica exatamente no centro da cidade. Lá, muitas barraquinhas com comes-e-bebes, três palcos, espaços alternativos, shows musicais e intervenções artísticas. E o melhor: MUITO homem por metro quadrado. Detalhe: 85% são MARAVILHOSOS (mineiros são fodassos!) e o percentual de viados também é altíssimo!
Tenho um problema sério, decerto infundado, com minha auto-estima. Sou do tipo que se percebe que está sendo encarado, na hora já procura alguma mancha na roupa ou confere se não tem meleca escorrendo pelo nariz. É algum tipo de complexo que vou superar. Devo dizer que ir ao FIT ontem fez muuuuito bem ao meu ego. Não havia manchas na minha roupa, meu nariz não tinha meleca, meu cabelo, muito bem cortado, não estava verde e minha barba estava eximiamente bem feita (não fosse a preguiça e uma incômoda dificuldade alérgica, manteria minha cara limpa mais vezes). Fui alvo de muitos olhares, indiretas e diretas também. Estava sozinho e encontrei pouquíssimos conhecidos lá. Estava mais soltinho que o arroz da vovó, e decidido a me permitir brincar de azaração.
O lance é encarar com olhar de safado deixando claro "Ei! Tô muito aí pra você!". Se retribuído, boa. Se não, boa também. Mas é preciso ficar atento e ter cuidado ao encarar qualquer um. Se o cara for orelhudo (morro de medo de lutador de jiu-jitsu), e perceber sua encarada, faça cara de paisagem e saia pela tangente. Se estiver olhando um gato, mas quem perceber o olhar for a amiguinha-bichinha-feiosa dele, lance um olhar blasé e mire outro alvo! É uma questão de prática – coisa que eu não tenho, mas consigo deduzir!
Bem.... por volta de 1h30, Casal-do-Ano me liga dizendo que estavam entrando no Parque. Tempos atrás, isso seria o fim da minha noite de azaração-gay. Mas, ambos sabem de mim e, por tanto, constrangimento zero. Os dois insanos levaram uma pizza de camarão com catupiry pra mim (eu fiquei perplexo! De onde tiraram a idéia de levar uma pizza pro FIT?!), e eu achei o máximo! Depois de bancar a vela para os dois por cerca de meia hora, avisei que iria me jogar no meio do povão. Senhora Casal-do-Ano me alertou para ter cuidado... Respondi para ficarem tranqüilos e que caso eu não voltasse, poderiam ter certeza de que não teria me perdido por aí, ao contrário, teria me encontrado...!!!!
Não aconteceu nada demais. Mas teve bom. MUITO bom! :)
Por fim, vou deixar a letra de uma musiquinha aqui! Sei que tem gente que não gosta de música em blog (né Râzi?!), mas eu ADORO. Gramaticalmente errada e linda, foi a música que marcou a noite de ontem!
Mantenho um blog há quase quatro anos. Tenho um carinho imenso por ele, que registra meus pensamentos e sentimentos mais íntimos. Mas tenho uma reputação a zelar ou, como diz um amigo recente, uma imagem heterossexual a manter. Então, escrevo muito subjetivamente. Por ter que filtrar o que escrevo lá, atualizo-o muito pouco, o que resulta em uma visitação mínima. Há que se destacar que o tom melancólico-depressivo-literário afasta muitos leitores também.
Resolvi criar um novo blog onde pudesse escrever sem pudor. Para tanto, precisei criar um pseudônimo. Assim surge Ludo, que narra na blogosfera o lado cor-de-rosa de sua vida. Ludo é o diminutivo de Ludovic, personagem principal de Minha Vida em Cor de Rosa (Ma vie em rose, Bélgica, 1997), filme que inspira o título do blog. (Sim, eu sou metido a cult e acho importante que saibam disso. Sou apaixonado por poesia, consumidor ávido de literatura - com preferência pela brasileira, portuguesa e russa, nessa ordem -, cinéfilo em ascensão, amante do tablado e viciado em música.) Ludovic é um garoto que pensa ser, e age, como uma garota. Aos cinco anos, ele não compreende por que não pode usar saia, menos ainda beijar um amigo pelo qual se apaixona. Ainda na infância, Ludovic vai enfrentar o preconceito da família, dos amigos, dos vizinhos... É um drama muito comovente e que vale a pena ser conferido! Logo abaixo, disponibilizo um pequeno clip do filme.
Deixo claro que não me identifico com o Ludovic. Nunca quis usar saia e não me atrai nem um pouco a idéia de ser uma garota. Amo meu pinto, adoro meu corpo peludo, honro minha barba grossa e me orgulho pela voz de baixo-profundo que Deus me deu. Masculinidade não tem a ver com sexualidade. Sou um homem que gosta de homens. Adoro pêlo com pêlo, beijo áspero de barba por fazer e, principalmente, da pegada forte do corpo de outro macho.
Há tempos adio a criação deste blog. Mas, os acontecimentos de ontem foram decisivos! Não vou me alongar demais, porque iniciar um blog com um texto enorme pode desanimar possíveis leitores. Vamos então a uma breve contextualização:
Apaixonei-me perdidamente ano passado. Foram quatro meses de angústia. O cara se dizia hétero, sabia da minha condição gay e se aproveitou muito da minha paixonite. Fiquei tão descompensado por essa paixão, que cheguei a largar um puta emprego, abandonar os amigos e me enfiar no quarto em uma profunda depressão que durou dois meses. Recuperado, passam-se meses até que reencontro meu algoz e revivo todos aqueles sentimentos de novo. Fiquei com medo, pois percebi que ainda havia uma pequena chama daquela paixonite. Havia combinado com ele de irmos ao teatro ontem, conferir a estréia de uma peça sobre um casal gay. Sofri o dia inteiro a angústia de revê-lo, principalmente diante uma peça com conteúdo, no mínimo, tão sugestivo. Sabia que não me faria bem, mas ele me ligou confirmando o encontro e eu, que não sei dizer não, confirmei. Porém, dez minutos antes da hora marcada eu decidi ligar e dizer: “Foi mal, NÃO vou mais!”. Curto, grosso e sem remorso. I learned!
Fui conferir a peça sozinho. Depois, não hesitei em me jogar no Ponto de Encontro do FIT. Para quem nunca ouviu falar, o Festival Internacional de Teatro Palco e Rua – FIT BH é um evento anual que transforma a capital mineira em um imenso palco. Peças teatrais são encenadas em todos os teatros da cidade, além de praças e ruas também cederem espaço para artistas do mundo inteiro. A melhor parte do evento é o Ponto de Encontro, montado no Parque Municipal, que fica exatamente no centro da cidade. Lá, muitas barraquinhas com comes-e-bebes, três palcos, espaços alternativos, shows musicais e intervenções artísticas. E o melhor: MUITO homem por metro quadrado. Detalhe: 85% são MARAVILHOSOS (mineiros são fodassos!) e o percentual de viados também é altíssimo!
Tenho um problema sério, decerto infundado, com minha auto-estima. Sou do tipo que se percebe que está sendo encarado, na hora já procura alguma mancha na roupa ou confere se não tem meleca escorrendo pelo nariz. É algum tipo de complexo que vou superar. Devo dizer que ir ao FIT ontem fez muuuuito bem ao meu ego. Não havia manchas na minha roupa, meu nariz não tinha meleca, meu cabelo, muito bem cortado, não estava verde e minha barba estava eximiamente bem feita (não fosse a preguiça e uma incômoda dificuldade alérgica, manteria minha cara limpa mais vezes). Fui alvo de muitos olhares, indiretas e diretas também. Estava sozinho e encontrei pouquíssimos conhecidos lá. Estava mais soltinho que o arroz da vovó, e decidido a me permitir brincar de azaração.
O lance é encarar com olhar de safado deixando claro "Ei! Tô muito aí pra você!". Se retribuído, boa. Se não, boa também. Mas é preciso ficar atento e ter cuidado ao encarar qualquer um. Se o cara for orelhudo (morro de medo de lutador de jiu-jitsu), e perceber sua encarada, faça cara de paisagem e saia pela tangente. Se estiver olhando um gato, mas quem perceber o olhar for a amiguinha-bichinha-feiosa dele, lance um olhar blasé e mire outro alvo! É uma questão de prática – coisa que eu não tenho, mas consigo deduzir!
Bem.... por volta de 1h30, Casal-do-Ano me liga dizendo que estavam entrando no Parque. Tempos atrás, isso seria o fim da minha noite de azaração-gay. Mas, ambos sabem de mim e, por tanto, constrangimento zero. Os dois insanos levaram uma pizza de camarão com catupiry pra mim (eu fiquei perplexo! De onde tiraram a idéia de levar uma pizza pro FIT?!), e eu achei o máximo! Depois de bancar a vela para os dois por cerca de meia hora, avisei que iria me jogar no meio do povão. Senhora Casal-do-Ano me alertou para ter cuidado... Respondi para ficarem tranqüilos e que caso eu não voltasse, poderiam ter certeza de que não teria me perdido por aí, ao contrário, teria me encontrado...!!!!
Não aconteceu nada demais. Mas teve bom. MUITO bom! :)
Por fim, vou deixar a letra de uma musiquinha aqui! Sei que tem gente que não gosta de música em blog (né Râzi?!), mas eu ADORO. Gramaticalmente errada e linda, foi a música que marcou a noite de ontem!
EU – Érika Machado
Eu não sabe de tudo
Eu não sabe de nada
Eu sabe muito bem de tudo que acha legal
Eu se entristece
Depois eu esquece
Eu vai sair por aí vai passear se divertir
Eu vai sair por aí vai passear se divertir